A SAGA DE UM ANCIÃO
Clauber Martins
Hêita saudade danada
Do tempo da meninisse
Da parte verde da vida
Vivida no interior
Gongó de chita encarnada
De couro-cru a alpercata
Puxando um carrim-de-lata
Comendo taturubá
O mundo inteiro eu andava
Sem sair do meu lugar
Caçava de baladeira
Armava arapuca e laço
Banhava nu no riacho
Nem via o tempo voar
Depois voltava pra casa
Mascando um bolo-de-barro
Com a venta cheia de catarro
Ouvindo a nambu cantar
O mundo inteiro eu andava
Sem sair do meu lugar
De noite a gente escutava
Debaixo dum céu formoso
As histórias de trancoso
Capelobo e nego-d’água
Sonhava que era vaqueiro
Do aboio mais bonito
Tangendo o gado no grito
Pra porteira do currá
O mundo eu andava
Sem sair do meu lugar
Hoje com setenta anos
De cabelo embranquecido
Velho, cansaço e esquecido
No asilo do desengano
Feito um boneco-de-pano
Passarim de cativeiro
Me acocha um desespero
Quando começo a pensar
O mundo inteiro eu andava
Sem sair do meu lugar ...
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